quinta-feira, 25 de julho de 2019



A pesar de tanta mierda, siempre hay razones para ser feliz.

Con el tiempo te va dando igual lo que algún día te parecía tan important.



quarta-feira, 24 de julho de 2019

UMA HISTÓRIA DE TANTO AMOR

Na obra de Clarice Lispector, algo que se destaca é como, a partir de uma experiência ou cena trivial, a voz narrativa ou o personagem descobre uma súbita revelação, como se um sentido desconhecido se abrisse e toda a existência humana se reconfigura, não podendo mais voltar ao estado anterior. A isso se pode chamar “epifania”, que se na Bíblia vem da revelação da Estrela de Belém do lugar onde nascera Jesus, em Clarice são as descobertas da grandiosidade que existem em todas as mínimas coisas.
No conto “Uma história de tanto amor”, a história mostra como uma menina descobre os diferentes modos de amar (e de sofrer) a partir de sua relação com três galinhas. Nele, dando simbologia aos pensamentos da menina e às ações das galinhas, Clarice apresenta toda a complexidade das relações e da construção da própria identidade.
Sem mais, vamos a ele:


UMA HISTÓRIA DE TANTO AMOR
(Clarice Lispector)

Era uma vez uma menina que observava tanto as galinhas que lhes conhecia a alma e os anseios íntimos. A galinha é ansiosa, enquanto o galo tem angústia quase humana: falta-lhe um amor verdadeiro naquele seu harém[1], e ainda mais tem que vigiar a noite toda para não perder a primeira das mais longínquas claridades e cantar o mais sonoro possível. É o seu dever e a sua arte. Voltando às galinhas, a menina possuía duas só dela. Uma se chamava Pedrina e a outra Petronilha.
Quando a menina achava que uma delas estava doente do fígado, ela cheirava embaixo das asas delas, com uma simplicidade de enfermeira, o que considerava ser o sintoma máximo de doenças, pois o cheiro de galinha viva não é de se brincar. Então pedia um remédio a uma tia. E a tia: “Você não tem coisa nenhuma no fígado”. Então, com a intimidade que tinha com essa tia eleita, explicou-lhe para quem era o remédio. A menina achou de bom alvitre[2] dá-lo tanto a Pedrina quanto a Petronilha para evitar contágios misteriosos. Era quase inútil dar o remédio porque Pedrina e Petronilha continuavam a passar o dia ciscando o chão e comendo porcarias que faziam mal ao fígado. E o cheiro debaixo das asas era aquela morrinha mesmo. Não lhe ocorreu dar um desodorante porque nas Minas Gerais onde o grupo vivia não eram usados assim como não se usavam roupas íntimas de nylon e sim de cambraia. A tia continuava a lhe dar o remédio, um líquido escuro que a menina desconfiava ser água com uns pingos de café — e vinha o inferno de tentar abrir o bico das galinhas para administrar-lhes o que as curaria de serem galinhas. A menina ainda não tinha entendido que os homens não podem ser curados de serem homens e as galinhas de serem galinhas: tanto o homem como a galinha têm misérias e grandeza (a da galinha é a de pôr um ovo branco de forma perfeita) inerentes à própria espécie. A menina morava no campo e não havia farmácia perto para ela consultar.
Outro inferno de dificuldade era quando a menina achava Pedrina e Petronilha magras debaixo das penas arrepiadas, apesar de comerem o dia inteiro. A menina não entendera que engordá-las seria apressar-lhes um destino na mesa. E recomeçava o trabalho mais difícil: o de abrir-lhes o bico. A menina tornou-se grande conhecedora intuitiva de galinhas naquele imenso quintal das Minas Gerais. E quando cresceu ficou surpresa ao saber que na gíria o termo galinha tinha outra acepção[3]. Sem notar a seriedade cômica que a coisa toda tomava:
— Mas é o galo, que é um nervoso, é quem quer! Elas não fazem nada demais! e é tão rápido que mal se vê! O galo é quem fica procurando amar uma e não consegue!
Um dia a família resolveu levar a menina para passar o dia na casa de um parente, bem longe de casa. E quando voltou, já não existia aquela que em vida fora Petronilha. Sua tia informou:
— Nós comemos Petronilha.
A menina era uma criatura de grande capacidade de amar: uma galinha não corresponde ao amor que se lhe dá e no entanto a menina continuava a amá-la sem esperar reciprocidade. Quando soube o que acontecera com Petronilha passou a odiar todo o mundo da casa, menos sua mãe que não gostava de comer galinha e os empregados que comeram carne de vaca ou de boi. O seu pai, então, ela mal conseguiu olhar: era ele quem mais gostava de comer galinha. Sua mãe percebeu tudo e explicou-lhe:
— Quando a gente come bichos, os bichos ficam mais parecidos com a gente, estando assim dentro de nós. Daqui de casa só nós duas é que não temos Petronilha dentro de nós. É uma pena.
Pedrina, secretamente a preferida da menina, morreu de morte morrida mesmo, pois sempre fora um ente frágil. A menina, ao ver Pedrina tremendo num quintal ardente de sol, embrulhou-a num pano escuro e depois de bem embrulhadinha botou-a em cima daqueles grandes fogões de tijolos das fazendas das minas-gerais. Todos lhe avisaram que estava apressando a morte de Pedrina, mas a menina era obstinada[4] e pôs mesmo Pedrina toda enrolada em cima dos tijolos quentes. Quando na manhã do dia seguinte Pedrina amanheceu dura de tão morta, a menina só então, entre lágrimas intermináveis, se convenceu de que apressara a morte do ser querido.
Um pouco maiorzinha, a menina teve uma galinha chamada Eponina.
O amor por Eponina: dessa vez era um amor mais realista e não romântico; era o amor de quem já sofreu por amor. E quando chegou a vez de Eponina ser comida, a menina não apenas soube como achou que era o destino fatal de quem nascia galinha. As galinhas pareciam ter uma pré-ciência do próprio destino e não aprendiam a amar os donos nem o galo. Uma galinha é sozinha no mundo.

Mas a menina não esquecera o que sua mãe dissera a respeito de comer bichos amados: comeu Eponina mais do que todo o resto da família, comeu sem fome, mas com um prazer quase físico porque sabia agora que assim Eponina se incorporaria nela e se tornaria mais sua do que em vida. Tinham feito Eponina ao molho pardo. De modo que a menina, num ritual pagão que lhe foi transmitido de corpo a corpo através dos séculos, comeu-lhe a carne e bebeu-lhe o sangue. Nessa refeição tinha ciúmes de quem também comia Eponina. A menina era um ser feito para amar até que se tornou moça e havia os homens.

[1] grupo de mulheres que se relacionam com um mesmo homem; [2] uma boa ideia; [3] sentido, interpretação; [4] teimosa, persistente.
***

Em termos de cenário e enredo, o conto é altamente trivial: no interior de Minas Gerais, uma menina traça sua rotina de cuidar de suas galinhas, sendo que às vezes elas servem de almoço para a família. Mas Clarice Lispector vê nisso um campo para a transição da menina para a mulher, da fase infantil para a fase da compreensão das ações e dos simbolismos que existem nelas.
Há duas questões principais que se entrelaçam no conto: a relação galinha-galo e as três relações possíveis da menina com as galinhas.
Na primeira, se a galinha orbita a sua própria inconsciência (algo também visto nos contos “Uma galinha” ou “O ovo e a galinha” ou na história infantil “A vida íntima de Laura”), a menina torna-se aquela que conhece a alma e os anseios galináceos, pela observação. E ela, na sua visão infantil, vai traçando paralelos entre as galinhas e o galo, e entre elas e o homem. Vem daí o estranhamento que percebe na gíria da palavra “galinha”.
E se ela começa a notar as diferenças nessa relação, a voz narrativa demonstra, nas três galinhas, três modos de amar que a menina projeta: Petronilha, a primeira, que é morta e comida enquanto a menina passeava, é o amor não correspondido e subitamente interrompido. Além disso, é o primeiro contato efetivo da menina com a morte. O consolo da mãe, de que ela passaria a fazer parte de cada um, quando comida, não a conforma, pois ainda não entende essa noção de perda, de ausência, de frustração do amor doado.
A segunda, Pedrina, sendo a secretamente preferida da menina, demandou mais atenção, uma vez que só sobrou ela das suas galinhas. E toda a atenção dada, o ato de enrolar a galinha em panos e pôr nos tijolos quentes, torna-se a forma do amor sufocante e superprotetor. Ironicamente, esse zelo em excesso para proteger foi o que matou Pedrina. Mas há o ato de autoconvencimento que a menina capta, ou seja, ela adquire consciência de que suas ações impactam na relação amorosa dela com o outro, que também é um sujeito.
Por fim, surge Eponina, destinatária de “um amor mais realista e não romântico; era o amor de quem já sofreu por amor”. Com a menina mais velha, a terceira galinha é apontada de modo mais pontual, tanto que a história se concentra no comer a Eponina. E a menina sabe que o outro (a galinha, no caso) é um indivíduo que nunca estaria totalmente conectado a ela. Quando ela a devora, mesmo sem fome, com um prazer selvagem, é por querer essa fusão, essa ligação íntima e impossível entre dois seres.
Se a menina é um ser feito para amar, essas experiências simbólicas com as galinhas tornam-se etapas que ela precisa passar para poder enfrentar outros relacionamentos, muito mais complexos, quando cresce e se torna moça.

Clarice Lispector, como poucos autores, revela em frases precisas e profundas os dilemas e conflitos da existência humana e das relações com o outro. Além disso, não cai em ensinamentos, mas lança ao leitor as angústias dos personagens, como se dissesse “Aqui está, agora veja o que fará com isso”. Se o leitor passa pelo processo de revelação existencial a partir do cotidiano ou não é com cada um, mas Clarice consegue, pela escrita, tornar uma galinha mais que uma galinha e o outro muito mais que o outro.

E pronto!

POEMA DO GATO

A relação dos seres humanos com os animais, na literatura, são das mais diversas. O capitão Ahab caça Moby Dick, no livro de Herman Melville. A cadela Baleia tem medo e amor, raiva e servidão por Fabiano, em Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Edgar Allan Poe vê um corvo entrar pela janela de seu quarto e grasnar Nevermore. Um rapaz persegue uma vaca (e seu destino) até a fazenda do Pãodolhão, no conto “Sequência”, de Guimarães Rosa. Há também Tenório, o galo, Ladino, o pardal, Nero, o cão, e outros animais no Bichos, de Miguel Torga.
Mas talvez um dos poetas mais ternos e que melhor conseguiu descrever e sentir uma relação com um gato tenha sido António Gedeão. Evocando o animal, transita por vários símbolos, a morte, a vida, o amor, a independência e a necessidade do outro. E, como se prova ao final do poema, mesmo quem não possui um gato poderá se identificar com António Gedeão.
Sem mais, vamos a ele:

POEMA DO GATO
(António Gedeão)

Quem há-de abrir a porta ao gato…
quando eu morrer?

Sempre que pode
foge prà rua
cheira o passeio
e volta para trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva
desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.

Quando abro a porta corre para mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semicerrados, em êxtase,
ronronando.

Repito a festa[1],
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas,
e rosna,
rosna, deliquescente[2],
abraça-me
e adormece.

Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?

[1] carinho, afago; [2] desmanchando-se

***

O poema divide-se em cinco estrofes. A primeira e a última surgem numa forma de circularidade, começando e encerrando-se por um autoquestionamento. As três do meio aprofundam-se em três aspectos que parecem construir etapas em “zoom” do gato.
Na cena que se apresenta logo na primeira estrofe, há um jogo da trivialidade com o choque da ausência. O gato se torna um símbolo da dependência, da necessidade do dono – para lhe abrir a porta. Além disso, a preocupação do poeta se revela algo da esfera da sensibilidade, explorando uma antecipação do cuidado com um outro ser que, na eventualidade de sua ausência, sofrerá.
Mas, como é um gato, há o certo orgulho inconsciente, o lado indomável e selvagem que sempre subsiste na esfera. Por isso, a segunda estrofe revela as ações do gato que foge, apenas para poder ver a rua e senti-la. E, no momento em que se sente senhor de si, esse animal defronta-se com a porta fechada. Isso, em total contraponto à pergunta da primeira estrofe, é feito para rebater a “petulância” do gato, aqui entre aspas, pois o poeta não sente raiva ou vingança, antes pena (“pobre do gato”). Nessa relação dono-gato, feita de tensões e isolamentos, a porta funciona como esse ponto de conexão não apenas com o mundo externo, mas também de um com o outro.
À ironia suave da segunda estrofe sucede o “encontro”, como “a mulher aos braços do amante”. A descrição do gesto de carinho para o gato, vagarosamente, expressa não apenas o “êxtase ronronante” do gato, mas busca transmitir em palavras a própria sensação do deslizar por todo o corpo, atentando-se às partes mais alertas e despertas do animal: a cauda, os bigodes, os olhos, tudo entregue a esse erotismo da carícia do dono.
Na quarta estrofe, repete-se o gesto e o modo, mas há uma aproximação, passando-se do corpo para o rosto. As maxilas, os olhos, as narinas, tudo se mantém nessa entrega total ao carinho recebido. Vê-se que há um total afastamento do gato que queria fugir, que miava “com raiva desesperada”, sendo que agora apresenta-se ronronando, abraçando e dormindo.
Eis que, encerrando o poema, a pergunta do título mostra-se inusitada, uma vez que o poeta, que tanto descreveu as suas cenas com o gato, os carinhos que lhe dava e as reações, “não tem gato”. Com isso, dois elementos se revelam e se completam: 1) O poder da palavra e da literatura, que formula um ambiente totalmente imaginado e hipotético, sem compromisso efetivo com a realidade, mas que é capaz de criar no leitor uma identificação, inclusive afetiva; 2) A ternura de António Gedeão (presente em vários outros de seus poemas, como “Mãezinha”, “Poema do amor fóssil”, “Pedra Filosofal”), que estabelece a máscara de dono de gato para transmitir a preocupação, não necessariamente de abrir a porta, mas sim de conectar-se com algum ser independente, mas que necessita do afeto.

Enfim, os animais, como seres que não sabem que vão morrer, podem rolar na rua como se fosse na cama, podem celebrar a vida infinita do eterno instante. Aos homens, e aos poetas, cabe pensar, não na morte, mas nas conexões que se deixam e nas sensações que transmitiram.
E que se saiba transitar de uma a outra, como bons animais pensantes que somos…

E pronto!

A MENINA QUE CARREGAVA BOCADINHOS

É necessário deixar-se surpreender pelos escritores contemporâneos. Afastar-se dos cânones supremos como Luís de Camões, Machado de Assis e Eça de Queirós, passando pelos titãs Guimarães Rosa, José Saramago e Graciliano Ramos, e notar que o século XXI já vai em quase duas décadas e há muitos autores que revisitam a literatura e a expandem.
Caso muito emblemático é o do escritor português Valter Hugo Mãe, ainda mais nos atuais tempos incertos de bloqueios, convicções e ódios eternos que nascem todos os dias. Em seus romances há um conflito impossível do indivíduo com o lugar em que está, ou com certos ares fantásticos (como em O filho de mil homens) ou com uma tristeza interna histórica e etária (como em A máquina de fazer espanhóis).
Em seus contos, como os publicados em Contos de cães e maus lobos, de 2015, um ambiente de sonho e de fábula se constrói, capaz de revelar e despertar a humanidade que ainda persiste em cada leitor. Todos eles se poderiam ver, mas aqui se escolhe “A menina que carregava bocadinhos”, como forma de mostrar a resistência não-violenta que se pode demonstrar, mesmo com opressões e vinganças a cada passo.
Sem mais, vamos a ele:

A MENINA QUE CARREGAVA BOCADINHOS
(Valter Hugo Mãe)

A menina entrou na casa grande com nove anos para trabalhar em troca de sopa e de um colchão estreito. Estava muito salva, diziam-lhe ajuizadamente todas as pessoas. Se não a tomassem como criada teria apenas a miséria por garantia. Naqueles tempos, a pobreza não se curava senão com a piedade de quem podia, e ela acedeu ao seu destino assim pequena, feita de ossos fininhos, uns olhos claros esbugalhados de ansiedade, confusa com palavras educadas que nunca ouvira e deslumbrada com o enfeitado da casa. Pensava: vão engordar-me, vão acalmar-me, vão educar-me as palavras e pôr-me bonita.
Era preciso que tratasse das coisas leves, como as feitas de panos diversos e as de carregar bocadinhos. Andava pela lavandaria, arejava cortinas, engomava folhos de infinitas saias e as camisas brancas ou as calças compridas do patrão. Também levava comida aos cães presos ao fundo do campo, junto do muro mais distante. Os cães latiam ali por qualquer ruído ou presença estranha. Eram seguranças zangados, odiavam intromissões e obedeciam furiosamente aos interesses dos senhores. Nos primeiros dias, os cães odiaram a menina. Depois, aprenderam a amá-la no modo invariavelmente irritado que tinham de existir. Com o tempo, ela haveria de se sentir uma esquisita irmã dos cães, como eles aprisionada e grata, aprisionada e fiel, o que era diferente de ser feliz ou, sequer, entender a felicidade.
A menina cuidava de não se magoar. Escutava as ordens, aligeirava-se, dizia sempre que sim, e trabalhava sem muitas conversas. Achava que as conversas eram modos de aumentar o trabalho, porque ninguém a chamava para discutir a beleza das cores do céu ou quaisquer sonhos de princesa. Escutava ordens e reprimendas, a toda a hora lhe encontravam um desmazelo numa mecha de cabelo, no baço de um sapato, no torto do avental. Entendia que, para fazer parte daquela vida requintada, teria também de arranjar-se num enfeite bastante, para não descombinar com as mobílias ou com as passadeiras aprumadas. Importava que estivesse branca, lavada, para ser uma presença sem susto e sem cheiros na delicadeza que era a vida rica dos seus nobres senhores.
Lentamente, aprendeu a esquecer-se da sua própria família, para não lhe sentir a falta, para não carregar incompletudes. Queria estar inteira, como quem resolve passados e abraça o presente sem hesitações. Era para não guardar medos, não alimentar medos. Construía esquecimentos, pensava ela. Gostava de construir esquecimentos. Tinha uma urgência enorme em dedicar-se às tarefas sem esperar nada. Comia a sopa e ajeitava-se no colchão estreito para descansar e dormir. Se tivesse de esperar, seria apenas isso, a sopa e o descanso mais o sono. Era como lembrar exclusivamente do presente e um pouco do futuro. Lembrava aquilo que a mantinha viva.
Para poupanças, a menina vestia uma farda e recebia peças de roupas velhas que circulavam pelas criadas. Eram roupas das quais a senhora desistia e as criadas usariam para missas de domingo ou raríssimas festas. Um dia, já nos seus quinze anos de idade, habituada e assim agradecida, sempre muito salva, a menina recebeu da patroa um grande lenço de pescoço incrivelmente sedoso e brilhante que se rasgara numa das pontas. Era um tecido luminoso que quase não obedecia às mãos. Soltava-se dos gestos como uma coisa viva que quisesse caminhar no vento. Era de uma frescura intensa que lhe criava a impressão de mergulhar as mãos na água. A menina, emocionada com ser dona de algo tão puro e belo, foi ver ao sol tamanha oferta e contemplava o quanto transparecia e como o quintal se coava por aquelas cores igual a ter descido sobre o mundo um arco-íris. Assim mesmo conservou o lenço rasgado. Era como um animal ferido que não deixava de ser belo. Ficava dobrado na sua gaveta e acendia-se de cada vez que o buscava e o deitava sobre o corpo, semelhante a um pedaço de água que a abraçasse.
Nessa altura, uma das criadas mais velhas começava a ensinar-lhe a costura, para medir os tecidos longos e fazer-lhes bainhas rigorosas. Era fundamental que se estendessem toalhas novas, imaculadas na sua brancura, para os almoços e jantares de cada dia. Quando estava a família sem visitas, não se punham os bordados, mas nem por isso se asseava uma mesa com qualquer trapo. A pequena criada aprendeu a mexer nas agulhas e nas linhas, aprendeu a coser num traço contínuo, certinho, como se tivesse uma máquina. Remendava e refazia.
Aproveitava as tiras que restavam para guardanapos, inventava laços para adornar os cantos. As toalhas corriqueiras da casa grande passaram a ter diferenças, discretamente tornadas mais divertidas, mais bonitas. Toda a gente reparou nisso. Os senhores estavam orgulhosos por terem acolhido aquela criadita. Tinham sido ajuizados na escolha e na instrução que lhe ministraram. Tinham uma casa feliz. Uma casa com a inteligência adequada, era o mesmo que dizer que serviam de boa escola para a vida.
Certo domingo, na luz ainda débil da manhã, antes da missa das sete, a criada assomou ao átrio numa blusa nunca vista. Era quase como apenas uma cor deitada acima de uma roupa interior branca. Uma cor que pairava como um perfume de se ver sobre o seu corpo sempre magro. Amanhecia o domingo de verão e a moça, também corada, parecia parte da luz nascendo. Caminhava timidamente nessa sensação flutuante, líquida. As pessoas espantavam-se, porque as criadas não acediam a um tal requinte. E tanto se espantaram que a patroa veio saber o que se passava, como se houvesse culpa em alguém se mudar para bonito. A moça transformara o velho lenço rasgado. Como quem costura charcos de água, ela criou uma obra perfeita e, ainda que a saia preta sob o avental de serviço a mantivesse a trabálho, quem a encarava julgava ver uma moça com a possibilidade de ser feliz. A patroa, despreparada para a surpresa, ordenou-lhe que fosse embora, que entrasse imediatamente em casa e se arranjasse nas vestes que lhe competiam. Ser bonita estava absolutamente fora das suas competências. Não eram modos para uma criada, e não se fazia festa na missa de domingo. Estava obrigada a ter decoro, a ser discreta. Estava obrigada a ser ninguém. Como se a beleza ou a felicidade fossem indecorosas.
A moça, apressada, obedeceu. Pensou que, remendado, o lenço continuava a ser como um bicho ferido. Sentia, contudo, que o rasgado passara para dentro do seu peito.
Considerou que fora ridícula a sua vontade. Deixara-se entusiasmar pela imaginação e pelos predicados mágicos do lenço. Nunca deveria ter esquecido que lhe competia cumprir tarefas para uma sobrevivência acordada desde os nove anos de idade. Ultrapassara o que se guardara para seu destino. Fora ridícula, de verdade. Fora ingénua como as crianças. Assim se despiu daquela coisa de água e a devolveu à escuridão da gaveta igual a um peixe vazio, sem ar. Coube, depois, novamente na sua camisa de hábito. Ponderou regressar à rua para atender ainda à missa, mas desistiu. Mais valia que fosse adiantar trabalho, para se redimir, para construir o esquecimento e recuperar a calma e a urgente sensação de dignidade.
Na tarde daquele domingo, a patroa mandou a moça para longe, a um recado demorado, e meteu-se no quarto dela à procura do lenço que agora era coisa de se vestir. Nos parcos pertences da criada, encontrou-o em breves segundos. Deitou-lhe um candeeiro por cima para ver melhor, como se pusesse aquilo na mira de um microscópio na banca de um laboratório. Estava incrédula com a ciência da criada. Nem os pontos de costura se notavam. A linha compunha tudo sem se ver. Uns pontos mínimos que mais se assemelhavam a sombras fugidias, improváveis, juntavam as partes. A patroa mexeu e remexeu, algo a incomodava na perfeição daquele trabalho. Costumava deitar fora as roupas sem serventia, estragadas, imprestáveis para uma senhora de prestígio, não podia esperar que um lenço rasgado pudesse ser refeito noutra obra mais impressionante ainda. Era como transformar uma matéria morta noutra presença quase falante. Algo absurdo que conferia um talento insuportável a uma criada tão jovem. Queria dizer, uma inteligência insuportável a uma criada. A senhora achava que as criadas deviam ter uma inteligência reservada, manifesta no cuidado da casa e no bem-estar essencial dos patrões. Eram para ser espertas e íntimas. Como pessoas íntimas, quase secretas de quem a comunidade lá fora não escutasse nada. Fechou a gaveta com a sensação de trancar uma caixa de pólen. A senhora não sabia o que fazer e, por isso, não fez nada. Apertou o rosto. Desgostava de tudo. Estava refilona e cheia de encomendas. Cobiçou ser ainda mais bela e andar ainda mais bem vestida. Considerou que aproveitaria cuidadosamente para si mesma a benesse de lhe ter aparecido tão requintada costureira.
Disseram-lhe para carregar bocadinhos de terra. Mudavam-se os vasos e plantavam-se melhores ideias, explicaram assim. Ajardinavam. A criada então fazia. Escadas acima e abaixo, com dois baldes de terra limpa que escolhia ao lado das hortas, obedecia já sem tristezas, apenas a força de sempre. Durante as conversas esparsas, comentavam as mulheres acerca do que acontecera. Achavam uma arrogância que a moça quisesse sair à rua vestida de rica. Era como querer os sonhos dos outros, era como enganar os outros. Quem a visse provavelmente haveria de julgá-la herdeira e cheia de instrução quando, na verdade, mal sabia ler e vivia da paciência de piedosas almas. A criada, suja de terra e sempre a trabalhar, ia e vinha entre as palavras que se diziam e escondiam. Fazia de conta que não lhe respeitavam, para não se sentir obrigada a elucidar ninguém sobre o que lhe passara pela cabeça. De todo o modo, não era nada complicado de entender. Talvez quisesse ser um pouco bonita, nem que apenas aos domingos, para a missa, como quem interpreta um teatro, como quem representa o que não é e pede a felicidade emprestada. Como se, por uns breves instantes, a vida dos trabalhadores fosse coisa diversa e tivesse passeio ou amor.
Quando a criada estava quase nos dezoito anos de idade, o corpo inteiro de mulher e um brilho nos olhos que era glória da saúde, achavam as colegas que mais valia que fosse dada de casamento a um qualquer. A patroa, que havia muito a punha de costureira para as suas vaidades, a cuidar de uma infinidade de folhos como quebra-cabeças derramados pelo corpo abaixo, não queria abdicar de criada alguma. As criadas eram investimentos demorados e não se podiam jogar porta fora por caprichos, sem boa ponderação. A costureira, invariavelmente frágil, valia para minudências que marcavam a nobreza dos senhores. Era bom que não tivesse amores nem soubesse nada acerca disso. No entanto, à revelia da prudência, lá apareceu pela casa grande um rapaz a entregas esporádicas que olhava para a criada com alguma lentidão. À passagem da criada, o rapaz devagava.
Suspendia-se até no fôlego, via encantado, alegrava-se e sofria ao mesmo tempo. A moça, por seu lado, mantinha o discreto brio, escapulindo-se de imediato, correndo às refeições dos cães. Por vezes, ali ficando um bom bocado. Não era que discutisse a sua vida com os cães, porque não discutia a vida, mas fugia porque lhe dava um medo estranho a partir dos sentimentos. Estava esclarecida acerca do perigo interior, como dizia para si mesma, o que advinha de vontades que não podia ou não sabia controlar. Os cães refilavam, que era maneira de expressarem cada coisa, desde o amor à aflição. Talvez pressentissem na moça uma dúvida qualquer. A moça, sem querer, carregava aos bocadinhos o amor para dentro de cada gesto, como quem se movia para um único objectivo. De tudo quanto alguma vez carregara, o amor era o mais difícil de segurar.
O amor nascia-lhe só de existir alguém. Era o mais genuíno e limpo dos sentimentos.
A senhora, proprietária e desagradada, ordenou que o rapaz não voltasse àquela casa. Haveriam as entregas de ser feitas por um velho que já não observasse mulheres nem estivesse ainda dotado de deslumbres. A criada, que queria achar nisso uma decisão justa, distraía-se. Começava a magoar-se com as agulhas. Não reparava no que fazia, furava os dedos, chorava de dor. Corria para os cães, frustrada e sem se entender. Comia menos, dormia menos, estava igual a emburrecida, estragada, adoentada, malcriada. A criada andava desnorteada e ninguém lhe mostrava orientação que bastasse. Passavam o boato de que a moça sucumbira de bem-querença.
O pouco que vira o rapaz das entregas muito lhe servira de carinho. A moça devagava também, a pensar para longe como um animal enjaulado que apenas concebe o caminho livre.
No domingo seguinte, antes da missa, naquela luz nascente, a criada vestiu a sua blusa de princesa e soltou os cães que se puseram em reboliço e latindo. Quem estava no átrio, à espera que todos se reunissem para seguirem até à igreja, viu a moça passar como uma coisa ardendo e os cães sempre rosnando em torno dela. Desapareceu para o emaranhado das árvores, justamente para o lado em que ficaria a casa dos seus pais. Julgaram, as cabeças estupefactas, que no matagal se daria um incêndio. Mas nunca mais viram ou ouviram falar da moça. A liberdade também era isso, não voltar. O amor existia em todas as direcções. Ela pressentia isso. Que o amor estava para lá de qualquer direcção.
***
            Há muitos elementos que evocam os contos de fadas: a personagem que sofrerá as atribulações, a entidade superior que fará as maldades (a patroa, ao invés de uma madrasta), o destino maior que a protagonista e para o qual ela se encaminha, os elementos que acabam por ajudar a moça a atingir o seu caminho (os cães, o lenço, o rapaz). Mas também o conto se afasta dessa atmosfera fabulosa, pois o ambiente é inserido num cotidiano de opressão social, inclusive com uma linguagem de fina ironia.
A história em si é carregada de simbolismos. A menina que trabalha para a família rica, de início, une-se aos cães, como um paradoxo de ser agradecida por estar presa, ou melhor, de não ter liberdade para ser salva… Nem os cães nem ela podem compreender a felicidade, por isso apenas “existem”. Como modo de canalizar tais sentimentos, o foco no trabalho, como eterno presente, e o esquecimento da família, como corte com o passado. E o futuro se torna sombra imprecisa, apenas uma repetição do dia presente (de sopa, de colchão e de trabalho).
O primeiro elemento despertador é o lenço. Chama a atenção a passagem do tempo, pois a menina encontra-se com quinze anos, descobrindo a beleza das coisas. O lenço que a patroa despreza (por estar rasgado numa ponta) “era de uma frescura intensa que lhe criava a impressão de mergulhar as mãos na água”. A essa revelação soma-se a habilidade adquirida de costurar, criando padrões de beleza que produzem uma dupla reação: da parte da menina, ela ganha estatura, ao fazer um vestido para si, tornando-se um ser luminoso e que se eleva; da parte da patroa, ao pasmo inicial sucede-se um incômodo invejoso. No embate, a menina se autorrebaixa, julgando-se incapaz (“estava obrigada a ser ninguém”). E a patroa rebaixa-se, entrando no quarto da criada e consumindo-se pelo fato dela poder criar coisas belas.
Há uma espécie de reordenação, com a menina interiorizando uma luz que não mais se apaga, mesmo com a série de ações de opressão e sufocamento que a patroa impõe (carregar terra, trabalhar sempre, desprezar-lhe). A saída que ela encontra é a beleza fortuita, a felicidade emprestada e clandestina que ela se dá: “Como se, por uns breves instantes, a vida dos trabalhadores fosse coisa diversa e tivesse passeio ou amor.”
Eis que ela faz dezoito anos. E, àquela chama inicial, sucede-se o brilho do amor e do despertar do corpo de mulher, mesmo com a patroa “prudente” ocultando aquele investimento (sua posse, afinal).
O segundo elemento despertador é o rapaz. Embora não haja qualquer interação entre eles, há o bastante para deflagrar a “bem-querença” da moça, e a faz “Carregar aos bocadinhos o amor para cada gesto”. A moça se torna um ser de amor, somado ao ser de beleza que já era, tão maior que si mesma que não consegue mais manter-se na rotina opressora em que estava. Por isso que ela desaparece, com os cães, como uma coisa ardendo.

Assim, esse conto revela as formas de descobrir a própria força interna. Para a moça, à beleza sucedeu o amor. Mas tudo funcionando como impulsos para a conquista da própria liberdade. Se a liberdade também é o “não voltar”, é precisamente a impossibilidade de regressar ao estado inicial. A moça não poderia ser aquela menina agradecida do início, da mesma forma que os cães, quando libertos, ampliam-se para o mundo todo. E o amor é isso, expandir-se em todas as direções, atingir todas as pessoas.

E pronto!

CÍRCULO VICIOSO

Machado de Assis é um dos nomes mais emblemáticos da literatura brasileira. É de admirar sua capacidade criativa com as palavras, pois personagens como Capitu, Bentinho, Brás Cubas, Rubião, Simão Bacamarte parecem possuir mais vida e existência que muitas pessoas reais. Ao mesmo tempo, ele se torna (como grande injustiça) um dos mais temidos escritores, em alguns casos num processo quase traumático de alunos. Isso ocorre por ele ser difícil? Na verdade, ele é exigente, ou seja, ele pede que seu leitor entre no jogo, dando pistas que, se não seguidas, é como seguir por um caminho só olhando para o chão, sem reparar em mais nada.
Seus romances e seus contos são os textos mais conhecidos, mas, se ele somente tivesse escrito poemas, possivelmente estaria no mesmo nível de Olavo Bilac, Raimundo Correia ou Alberto de Oliveira, seus contemporâneos. Alinhando-se ao Parnasianismo, o poema abaixo, intitulado “Círculo vicioso” e publicado em Ocidentais (1880) não é a descrição de uma cena, mas sim uma espécie de alegoria narrativa, em que quatro personagens falam, cada um por sua vez, da insatisfação com sua própria natureza e dos desejos de tornar-se outro ser.
Sem mais, vamos a ele:

CÍRCULO VICIOSO
(Machado de Assis)

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
“Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando[1] a lua, com ciúme:

“Pudesse eu copiar-te o transparente lume[2],
Que, da grega coluna à gótica[3] janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela”
Mas a lua, fitando o sol com azedume[4]:

“Mísera[5]! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela[6]:

“Pesa-me esta brilhante auréola de nume[7]…
Enfara-me[8] esta luz e desmedida umbela[9]…
Por que não nasci eu um simples vaga-lume ?”…

[1] olhando; [2] luz, brilho; [3] estilo artístico europeu do século XII à Renascença; [4] ressentimento, despeito; [5] interjeição de desagrado, como “Droga!”; [6] pálpebra (ou seja, olho) brilhante; [7] divina; [8] aborrece-me, enfada-me; [9] pano protetor em forma de guarda-chuva ou chapéu-de-sol.

***
A ideia do círculo vicioso é uma sucessão de cenas sem fim, em que o desfecho é um retorno ao início. No caso do poema, o vagalume quer ser a estrela, a estrela quer ser a lua, a lua quer ser o sol e o sol quer ser o vagalume, ou seja, cada um quer ser algo diferente do que é.
Esse soneto, além da já conhecida estrutura em quatro estrofes (dois quartetos e dois tercetos), com versos alexandrinos (com doze sílabas poéticas) e rimas interpoladas (ABBA), faz com que cada estrofe retrate um dos personagens, criando-se um gancho final para o personagem seguinte, na outra estrofe.
Assim, começando com o vagalume, o desejo que o inseto fala (“Quem dera”) é de ser uma “loira estrela”, por notar nela uma luz mais viva, que arde, associando-a como uma “eterna vela”. O poeta, então, encerra a estrofe com um recurso que seria repetido nos finais das estrofes seguintes: “Mas”, deslocando-se o foco do vagalume para a estrela.
Ela, olhando a lua, também externaliza a sua vontade de ser outra coisa. Por meio de um hipérbato (ou seja, a inversão da ordem sintática direta), a estrela comenta que a luz da lua foi contemplada pela fronte amada e bela (daquelas que inspiram poemas ou que suspiram para a lua) por todos os tempos, indo da Antiguidade (“coluna grega”) até a Idade Média (“gótica janela”). Algo que a estrela ciumenta também queria ter.
Eis que a lua, que, pela visão da estrela, teria a melhor das vidas, também se encontra descontente, pois olha para o sol e sente ciúmes. Toda a luz da lua (desejada pela estrela e tão distante do vagalume) não se aproxima da “claridade imortal” do sol, como resumo de toda a luz.
E o sol, por fim, baixando os olhos – uma vez que está no mais alto posto, como se fosse uma das faces de Deus –, queixa-se que tal luminosidade é um fardo e que preferia a simplicidade de um vagalume…
O símbolo máximo desse poema é a luz e sua intensidade. A luz do vagalume é frágil, mínima. A da estrela arde no azul e assemelha-se a uma pequena vela. A da lua, maior que a da estrela, ainda inspira amores e belezas. E a do sol, grandiosa, imortal, como auréola divina. A vontade de ser maior do que se é, inclusive espelhando-se em alguém, mostra-se, para Machado, como um “círculo vicioso”, pois sempre há alguém maior (com mais luz).

Machado não é o escritor malvado que criou livros chatos para aborrecer alunos… Se, para um leitor, os romances ainda não estão fazendo sentido, é preciso conversar com professores ou outros leitores e buscar os contos. Ou mesmo os seus poemas, que reservam muitas surpresas, como o acima.
O que é preciso é buscar Machado, que como poucos conseguiu observar a natureza humana, seu caráter e suas máscaras, e re-criar o próprio homem em histórias e palavras.

E pronto!

quarta-feira, 17 de julho de 2019



Cerque-se de puxa-sacos e você acabará castrado. Quem o lisonjeia excessivamente quer retirar sua força e vigor para que, quando o for apunhalar, você não seja capaz de reagir. De adulação em adulação, a galinha perde o pescoço. O puxa-saco ensaca a terra do buraco que ele mesmo abre para sua sepultura. O puxa-saco massageia o músculo do ego para que mais tarde a lâmina do punhal entre mais suavemente no tecido do coração. Não é à toa o ensinamento de Santo Agostinho: "Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem." Coisa terrível, porém, é quando quem puxa o saco é moralmente indistinguível de quem tem o saco puxado: então, a merda abraça a bosta e tudo são fezes.

domingo, 2 de junho de 2019


Guys!!!
A Capa está pronta!
Sei que demorou um pouco mais do que falei, mas está aqui pra vocês!
Espero que gostem, deixem suas opiniões, quero saber o que acharam.

Beijos!




  Origem Humana As  origens do ser humano  têm sido discutidas há séculos e até hoje não existe um consenso sobre a questão. Alguns crêem no...