Alguns leitores tem me procurado em outras redes sociais e me questionado sobre uma síndrome, não rara, mas também não tão expansiva. Espero que traga esclarecimentos a todos que tem duvidas.
A Síndrome de Borderline:
Psicoterapia Psicodinâmica em Pacientes com Organização
Borderline de Personalidade
PSICOTERAPIA PSICODINÂMICA EM PACIENTES COM ORGANIIZAÇÃO
BORDERLINE DE PERSONALIDADE: alguns aspectos técnicos
Elaine F. Damiani de Abreu
Florianópolis/SC
1 RESUMO
1.1 A ORGANIZAÇÃO DE PERSONALIDADE BORDERLINE
Grande parte dos autores descreve o fenômeno Borderline como um estado de psiquismo da personalidade, localizado no limite/fronteira entre a neurose e a psicose. Atualmente, muitos preferem considerá-lo como uma estrutura/organização, contendo suas próprias características (ZIMERMAN, 2004).
A fixação do desenvolvimento dos pacientes Borderline ocorreria durante a fase de separação-individuação, uma vez que a estrutura de personalidade patológica dos pais neste momento, não possibilitaria uma relação suficientemente boa, com trocas afetivas. Desta forma, existiria uma negação das diferenças entre o self e o objeto, mas não a negação da separação (KERNBERG 1966, 1967, 1968 apud ROMARO, 2000).
Para Romaro (2000), o ambiente familiar é considerado como um dos possíveis fatores predisponentes à patologia Borderline. Famílias em que há predominância de dificuldades conjugais, de hostilidade, agressividade, brigas recorrentes, quadro de alcoolismo, entre outros.
São relações objetais, normalmente caóticas, sendo uma conseqüência direta da difusão de identidade e da predominância dos mecanismos de defesa primitivos. Com pouca condição para uma percepção realística do outro, que se torna cada vez mais distorcida, o paciente com organização Borderline de personalidade deixa de adquirir real empatia (KERNBERG, 1991, 1995).
A angústia depressiva diz respeito ao passado e ao futuro concomitantemente e ocorre devido à possibilidade de não mais ter o objeto ao seu lado, porém, ao mesmo tempo, luta contra sua proximidade (BERGERET, 1998). Permanecem em um estágio em que não há lugar para um terceiro. Estabelecem relações simbióticas e, com a ausência do outro, são desencadeados sentimentos de fragmentação, trazendo a necessidade de sentir-se contido, o que demonstra ausência de um objeto interno bom/protetor (SCHESTATSKY, 2005).
1.2 TRATAMENTO E INTERVENÇÕES NA PSICOTERAPIA COM PACIENTES BORDERLINE
Em uma psicoterapia de abordagem psicanalítica, o que se busca é criar um espaço para "pensar" e tornar representável o que é irrepresentável, transformando imagens em palavras, por meio do processo de introjeção das interpretações. Os objetivos a serem adotados no tratamento de pacientes Borderline dependerão da compreensão que se faz dos quadros apresentados (SCHESTATSKY, 2005).
Na psicoterapia de abordagem psicodinâmica, encontram-se duas vertentes etiológicas distintas: a expressiva e a suportiva. Espera-se que os terapeutas que tratam de pacientes Borderline, procurem a abordagem mais adequada para o seu paciente, uma vez que ambas possuem utilidades diferentes, dependendo do caso abordado. É possível trabalhar as duas abordagens com um mesmo paciente (SCHESTATSKY, 2005).
Um elemento evidenciado no tratamento de tais pacientes é a tentativa de suicídio por parte destes. Quando ocorrem, o contrato terapêutico deve contemplar tal situação, a fim de que o tratamento possa ocorrer de forma menos disruptíva possível (KERNBERG, 1991).
Outra característica sempre presente em tratamento de pacientes de organização Borderline de personalidade são as "tempestades afetivas". Estas explodem no cenário psicoterapêutico com demanda intensamente agressiva, revelando uma condensação dos elementos sexuais agressivos (KERNBERG, 2005).
Comportamentos autodestrutivos e que expressam regressão, poderão apresentar-se de forma egossintônica, levando o paciente reagir negativamente a qualquer tentativa do terapeuta de colocá-lo para pensar. Há pacientes que, com sua destrutividade, conseguirão estabelecer uma erosão gradual do envolvimento com o terapeuta, provocando a deterioração do relacionamento terapêutico.
O terapeuta pode começar a pensar que, em tais condições, não há o que possa ser feito. Isso é considerado um sério problema contratransferencial (KERNBERG, 2005).
Por vezes, o terapeuta defronta-se com um dilema de difícil manejo: se ele focar na transferência, o paciente queixa-se que o mesmo está negligenciando as dificuldades cotidianas que estaria enfrentando, porém, se não for assim, o paciente poderá insistir que os esforços são em vão. Tais pacientes criam situações caóticas em seus tratamentos (KERNBERG, 2005).
1.2.1 Transferência em psicoterapia de pacientes com organização Borderline de personalidade
Para Kernberg (1992) a transferência do paciente Borderline é primitiva, sendo que a relação com o objeto se dá de forma parcial, com perda da prova de realidade, podendo surgir idéias delirantes quando analista e objeto primário tornam-se idênticos. A transferência negativa, para o autor, deveria ser interpretada no "aqui-agora" (ETCHEGOYEN, 2004).
Na transferência é comum a ocorrência de acting-out, que seria a expressão de um conflito inconsciente por meio da ação, e não através da vivência das emoções, lembranças e comunicação verbal (KERNBERG, 1991).
Com tais pacientes, aspectos ligados à relação transferencial-contratransferencial são cruciais para se trabalhar a inveja, a resistência e a dor psíquica. (ROMARO, 2000). Através da transferência-contratransferência, é possível visualizar a relação objetal primitiva que está em cena (KERNBERG, 2005).
1.2.2 Contratransferência em psicoterapia de pacientes com organização Borderline de personalidade
A contratransferência pode ser utilizada, além de instrumento de compreensão, também como instrumento diagnóstico. Fortes reações contratransferenciais poderão surgir em atendimentos a pacientes gravemente perturbados (EIZIRIK; LEWKOWICZ, 2005).
Assim, "Quanto maior for a psicopatologia do paciente e quanto mais regressiva for a transferência, mais intensas serão as respostas emocionais do terapeuta em relação ao paciente" (KERNBERG, 1995, p. 121). Cornfield e Share (1994 apud ROMARO, 2000) sugerem que os sentimentos contratransferenciais mobilizados, como raiva, desamparo, ansiedade e mau humor, são resultantes da pressão transferencial.
O desafio técnico de uma psicoterapia com pacientes Borderline estaria na capacidade do terapeuta em adaptar-se e desenvolver respostas terapêuticas adequadas às emoções intensas, caóticas e dolorosas despertadas pela interação com tal paciente que, reproduz suas relações objetais no campo terapêutico (SCHESTATSKY, 2005). É importante se trabalhar o impasse tranferencial/contratransferencial enquanto medida preventiva para se evitar uma prematura dissolução da psicoterapia (POGGI, 1992 apud ROMARO, 2000).
REFERÊNCIAS
BERGERET, J. A personalidade normal e patológica – 3 ed. – Porto Alegre: Artmed, 1998.
EIZIRIK, C.; LEWKOWICZ, S. Contratransferência. In: EIZIRIK, C.; AGUIAR, R.; SCHESTATSKY, S. Psicoterapia de orientação analítica: Fundamentos teóricos e clínicos – 2.ed. - Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 300-309.
ETCHEGOYEN, R. Fundamentos da técnica psicanalítica – 2 ed. – Porto Alegre: Artmed, 2004.
KERNBERG, O. Abordagem psicodinâmica das explosões emocionais dos pacientes Borderline. In: EIZIRIK, C.; AGUIAR, R.; SCHESTATSKY, S. Psicoterapia de orientação analítica: Fundamentos teóricos e clínicos – 2.ed. - Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 628-645.
___________, O. Diagnóstico estrutural. In:____. Transtornos graves de personalidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, cap. 1.
___________, O. Psicoterapia psicodinâmica do paciente Borderline. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. Cap. 9, 10. p. 159-188.
ROMARO, R. A. Psicoterapia dinâmica breve com pacientes Borderline. São Paulo: Casa do psicólogo, 2000. Cap. 1, 2, 3, 5
SCHESTATSKY, S. S. Abordagem psicodinâmica do paciente Borderline. In: EIZIRIK, C.; AGUIAR, R.; SCHESTATSKY, S. Psicoterapia de orientação analítica: Fundamentos teóricos e clínicos – 2.ed. - Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 606-627.
ZIMERMAN. D. E. Manual de técnica psicanalítica: uma revisão. Porto Alegre: Artmed, 2004.
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